INTEGRAÇÃO DAS BARRAGENS DE UPANEMA, ASSU E APODI PARA ATENDER 100% DA POPULAÇÃO DO OESTE

segunda-feira, 15 de junho de 2015 Pôla Pinto

Diante do eminente colapso de água para a população do oeste no 2º. Semestre deste ano, se tornou muito oportuna a programação da última sexta-feira (12) quando o Programa de Rádio Vozes do Sertão entrevistou o professor e pesquisador de climatologia, José Espínola. O diálogo embasado num olhar acadêmico discutiu o clima e a perspectiva de soluções para a convivência com a realidade da seca.
Foram apresentados os dados de precipitações 2015 dando conta de 118 municípios do Rio Grande do Norte com chuvas bem abaixo da média (muito secos), 2 abaixo da média (secos) e apenas 2 na média (chuvoso). “Não devemos nos surpreender porque ano de seca faz parte das características normais de nosso clima”, disse Espínola.
Ainda foi tratado do estudo da universidade de Alagoas e da UFRN que verificam relação com as atividades solares que indicaria 7 anos de seca para uma região que já atravessa a 5º. ano abaixo do normal. “Não é certo, mas o povo sertanejo também tem as mesmas conclusões sobre a relação do inverno com o ciclo de 10 em 10 anos que caracteriza a maior atividade solar”, afirmou Espínola.

UMA ANÁLISE DAS SOLUÇÕES EM CURSO
Questionado sobre as formas de passar pelas estiagens de chuvas com os efeitos minimizados, o professor José Espínola destacou o descaso histórico dos 3 níveis dos Governos Brasileiros (Federal, Estaduais e Municipais) com as soluções efetivas. “Sempre foram preferidas as medidas paliativas que geravam a dependência e subserviências política àquelas que reduziriam efetivamente os efeitos da seca”, afirmou Espínola. 
O professor José Espínola se reportou para 3 ações que serão avaliadas por ele e por mim neste texto:
1) AS CISTERNAS DE PLACAS = Segundo o professor José Espínola o Programa de Cisternas foi uma ação de destaque mais sistêmico e eficiente para convivência com a seca, mas insuficiente para resolver a questão. 
Aqui entra a minha opinião. Considero que as cisternas de 16.000 litros construídas para quase 1 MILHÃO DE FAMÍLIAS do semiárido brasileiro mostrou como era fácil resolver e garantir a água de consumo humano para 100% da população rural desta região de seca do Brasil. Utilizada apenas para beber e cozinhar ela dá conta da necessidade de uma família de 5 integrantes, o que atende a característica de 6 meses normais de seca e o tamanho de família do Nordeste. 
O problema continua porque ainda não está garantida segurança hídrica para outros gastos das famílias rurais, como no caso do uso doméstico para tomar banho, lavar casas e roupas; o suprimento da demanda das plantas dos quintais, a água de consumo animal e até para o plantio de alimentos. Neste caso, termina que a água da cisterna é utilizada para outro fim e reabre o déficit hídrico do consumo humano. É por isso que na mesma lógica das cisternas (e baixo custo, fácil construção e localização junto das residências de cada família beneficiada) é que surgiram outras tecnologias sociais destinadas à água de produção como barragens subterrâneas, barreiros trincheiras, barragens sucessivas, cisternas de produção e outras. 
No entanto, concordo com o professor Espínola que estas soluções não são únicas e nem suficientes para todas as realidades encontradas na diversidade e extensa área de 982.563,30 km2 de semiárido brasileiro. Deste modo, ele tocou noutras medidas faladas no Brasil que, dentre estas, está a Integração de Bacias do Rio São Francisco.
2) INTEGRAÇÃO DE BACIAS DO RIO SÃO FRANCISCO = O professor José Espínola falou do recente evento realizado em Mossoró para discussão sobre o andamento das obras pretendem trazer água do Rio São Francisco para vários Estados do Nordeste, inclusive, o RN. “Aquilo é uma enrolação. O braço da transposição que trará água para a gente foi uma gambiarra no projeto original que ainda carece de aprovação no 2º. Semestre do ano”, afirmou o professor Espínola.
3) INTEGRAÇÃO DAS GRANDES OBRAS HÍDRICAS ATRAVÉS DE ADUTORAS = O professor José Espínola referenciou a utilização da Barragem Armando Ribeiro (Assu), através das adutoras, como uma ação de Governo que mostrou um eficiente poder de resolutividade para convivência com as secas regionais. “As grandes obras hídricas são formas que vejo com bons olhos”, disse José Espínola.
Neste ponto volto a incluir a minha opinião para de um lado concordar que o abastecimento urbano da região foi melhorado com o fornecimento da barragem de Assu, embora tenha críticas ao custo de construção e a incapacidade de chegar à porta das pessoas que estão perto destes reservatórios e precisam de água, principalmente, as famílias rurais que salvo algumas exceções foram excluídas das adutoras citadas neste item.
Mas o fato é que a nossa realidade é de uma região oeste beneficiada pelOs três maiores reservatórios de água do Estado: Barragem de Umari (Upanema, 300.000.000 m3), Barragem de Santa Cruz (Apodi, 600.000.000 m3) e Barragem Armando Ribeiro (Assu, 2.400.000.000 m3). Aí vale perguntar, elas juntas resolveram o que nas vidas das pessoas moram nos seus entornos ?
É estranho, mas é real a situação de famílias que agora “morrem de sede em frente ao mar” de água doce que somam 3,3 bilhões de metros cúbicos de água na capacidade total de armazenamento. A exemplo disto, as associações comunitárias rurais do município de Campo Grande lutam há 14 anos pela construção de 25 km de adutora para o abastecimento de 2.000 pessoas.
A conferência territorial de Segurança Alimentar e Nutricional do Território Sertão do Apodi foi realizada recentemente com participações do poder público e da sociedade civil representantes de 17 municípios do oeste e dela saiuu uma proposta que pode resolver o problema de 100% das necessidades urbana e rural e toda a região. Trata-se da integração dos projetos de abastecimento das 3 barragens.
O projeto se realiza com adaptações nos projetos existentes ou em execução direcionando as prioridades destes para o abastecimento das famílias da região. Neste sentido podem-se considerar as seguintes sugestões:
a) Construção de ramificações na Adutora da Barragem de Assu para estender atual atendimento quase exclusivo dos núcleos urbanos para chegar às populações rurais.
b) Ampliação das obras da Adutora do Alto Oeste para maior cobertura das populações rurais.
c) Construção da Adutora Umari com ramais rurais e urbanos e integração com a Adutora da Barragem de Assu para fortalecimento do atendimento das necessidades urbanas do oeste.
d) Conclusão das barragens sucessivas e revitalizações dos rios Upanema e Umari.
e) Recuperação do Rio Apodi-Mossoró.

Estas obras integradas as tecnologias sociais podem chegar às populações mais distantes e assegurar uma convivência com as variações de chuvas sem grandes prejuízos econômicos, sociais e ambientais. 
Finalmente, considero importante deixar evidente que a realização deste ou de outras soluções não sairão de decisões fechadas em gabinetes, ou seja, é preciso estabelecer um amplo envolvimento da sociedade para avaliação do alcance e dos impactos (quanto custa e para quem vai) das medidas. Estes espaços já existem, mas precisam ser fortalecidos, como nos casos dos comitês dos colegiados territoriais, comitês de bacias e o comitê estadual para ações emergenciais de combate aos efeitos da seca.
Por fim, faço este texto considerando como uma provocação para um necessário olhar de prioridade da sociedade potiguar, nordestina e até brasileira. A água (ou a falta dela) virou pauta nacional e nós, que somos da região que sempre viveu com a deficiência deste líquido preciso, temos muito que apresentar para o Brasil. 
Que chovam comentários, ideias, opiniões e ações,

Caramurú Paiva
Engenheiro Agrônomo
Especialista em gestão ambiental


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