Durante
as eleições internas, para presidente estadual do PT, houve troca de
acusações graves com denúncias de “brejeiras”. Houve divergências
insuperáveis?
Isso não chegou a 2014. Está superado dentro do
PT. Tivemos divergências e diferenças públicas em relação ao Processo
de Eleição Direta do partido. Mas isso está resolvido inclusive pela
Direção Nacional do PT [com a homologação da escolha de Eraldo Paiva
para ser o presidente estadual]. Então não tem mais problema.
Mas há insatisfações internas?
Não.
Isso é uma questão de legitimidade do processo eleitoral, que foi
reconhecido. Não tem mais aresta em relação a isso agora que a eleição
[estadual] foi reconhecida pelo Diretório Nacional.
As diversas correntes internas foram contempladas?
As
eleições do PT funcionam por proporcionalidade. Então para quem está
fora [do partido] às vezes fica difícil entender. Se uma chapa tem 40%
dos votos, garante esse percentual dos cargos. Não há hegemonismo no
partido, mas sim proporcionalidade. Então, tivemos duas chapas, uma teve
entre 51% e 52% dos votos e outra entre 48% e 49% da eleição estadual.
Portanto, está resolvido. Cada uma fica com os membros da direção de
acordo com a votação que teve.
As divergências foram anteriores às eleições internas?
Sim.
As discussões não começaram no PED. Claro. Os debates fazem parte da
História do PT. Nós temos diferenças. Somos muitos unidos quando o PT
decide uma coisa, mas temos posições diferenciadas internamente. No
entanto, sempre que o PT decide, vamos juntos. Assim será em 2014.
Mas nesses processos foram usados termos muitos fortes: denúncias de irregularidades entre correntes internas...
Aconteceram
tentativas de manipulação da eleição. Tanto que a direção nacional
decidiu anular o processo nas cidades na quais houve irregularidades.
Mas o importante é que isso está resolvido e só persiste na cabeça da
imprensa que insiste no assunto.
O senhor e a deputada Fátima Bezerra já conversaram depois desses episódios e das trocas de acusações?
Sempre
conversamos sobre as questões do PT. O partido tem seus fóruns. Fátima
[Bezerra] esteve na posse de Eraldo [Paiva, presidente estadual do PT].
Não tem nenhuma querela.
Foi retomado o diálogo com os demais partidos potenciais aliados do PT sobre a eleição de 2014?
Em
relação ao Governo e ao Senado, há uma decisão nacional. Nós, no Rio
Grande do Norte, vamos seguir a decisão nacional. Essa decisão, no
momento, é para formação de uma aliança com o PMDB. É isso que estamos
discutindo. A direção nacional tem tratado isso com o PMDB. O PT tem
tratado com o PMDB do palanque nacional. Está acertado que o PMDB, aqui,
lançará candidato ao Governo e, o PT, ao Senado. É isso que está
conversado e comunicado, nacionalmente. Isso está sendo deliberado.
Vamos seguir essa decisão, até porque a eleição é no Brasil. Então, o
Rio Grande do Norte e outros estados entram no contexto nacional das
alianças. E, no Rio Grande do Norte, a decisão da direção nacional é
encaminhar com a candidatura ao Governo pelo PMDB, apresentando a
candidatura da Fátima [Bezerra] ao Senado.
E o PT do Rio Grande do Norte acata essa orientação com tranquilidade?
Sim,
obviamente. Se fosse a eleição isolado do Estado, teríamos outro
caminho. Eu acho que se estivesse em jogo apenas o Rio Grande do Norte
deveríamos lançar candidatura ao Governo, construir outras alternativa,
porque existe um esgotamento na política do Estado. Mas está em jogo o
Brasil. O Rio Grande do Norte entra no debate nacional, na mesa de
negociação nacionalmente.
E o PT abriu diálogo com outros partidos?
Dialogamos
antes com os partidos que estavam na oposição ao Governo Rosalba. Não
conversamos com o PMDB local sobre 2014. A nossa rodada de conversa com
os partidos foi definida pela oposição a Rosalba. Agora é outro desenho.
O PMDB está no processo de definição da candidatura ao Governo e não
tem essa decisão. Anunciou que vai definir isso em março. Esse é o nosso
recorte. Nacionalmente, fomos orientados a debater com os partidos que
estão no campo de aliança da presidenta Dilma.
Há possibilidade do PT do Rio Grande do Norte aceitar o PSB nessa coligação?
O PSB não está na aliança nacional, é adversário da presidenta Dilma.
Então, não há possibilidade de diálogo com o PSB?
A
orientação é buscar o campo de aliança com os partidos que integram a
base da presidenta Dilma. E vamos cumprir essa orientação. A definição
será em comum acordo com a direção nacional. A se manter essa
orientação, o PSB está fora do arco de aliança de 2014. O PSB tem
candidato (a presidente) em 2014. Então, está fora.
Mas há informação de que a ex-governadora Wilma de Faria estaria em diálogo para formar uma chapa de oposição, uma coligação...
Não
foi discutido isso nacionalmente. Fizemos reuniões com a direção
nacional do partido e não recebemos nenhuma informação da possibilidade
do PSB formar aliança conosco. Não vou ficar no campo da especulação. O
que se tem é a possibilidade de formar aliança com os partidos da base
da presidenta Dilma.
Então o PT não aceita formar aliança com um partido que esteja fora da base aliada da presidenta Dilma?
À sua pergunta simples, vou dar uma resposta simples: para consolidar aliança tem que ter uma decisão nacional.
O
PT, nas eleições recentes, tem conquistado uma cadeira na Câmara dos
Deputados e na Assembleia Legislativa. Uma candidatura de Fátima Bezerra
ao Senado não coloca em risco essas vagas?
Em uma eleição não
se tem garantia de nada. É sempre um risco. Há sempre uma disputa de
espaço. Isso vale para mim, para Fátima, para todos. Eu acho que há um
espaço para inovar a representação política no parlamento — quer seja na
Assembleia, na Câmara e no Senado — e também no Governo. Existe um
esgotamento da representação política no Estado. E Fátima tem um
trabalho no Rio Grande do Norte. As eleições são sempre disputadas, de
vereador a presidente da República... Não há garantia de vitória. O
partido vai avaliar o caminho a seguir.
E o senhor se coloca em que posição para a disputa? Pretende disputar qual mandato?
Não
está definido. O que temos dito é que a prioridade do PT é trabalhar o
Senado, manter a cadeira na Câmara e ampliar a representação na
Assembleia Legislativa. Estou à disposição. Se tiver um debate e o
partido sentir que eu tenho condições para representar na Câmara
Federal, estou à disposição. Mas meu desejo no cenário que está posto, é
ser candidato à reeleição. Mas vamos ver.
‘Nunca passamos por tamanha crise’
E o projeto de candidatura a governador?
Na
realidade, eu queria ser candidato a governador, mas não sendo, vamos
analisar com uma rede de colaboradores qual o caminho a seguir. É
público e notório que tinha colocado meu nome como candidato a
governador. No entanto, essa posição não existe mais. Tinha vontade de
ser candidato, como todos que acompanham a discussão no PT sabem.
Está descartado esse projeto em 2014?
Totalmente
descartado por essa tática nacional. Se fosse só o Rio Grande do Norte,
seria mais fácil, mas não é. Eu tenho perfeita noção do que significa a
questão nacional. Eu não deixo de reconhecer que existe uma
circunstância na qual os mesmos atores polarizam a política local e,
nessa situação, há um espaço para inovação. A sociedade tem a
expectativa de buscar outro caminho. Mas, como sou disciplinado, acato a
decisão nacional.
Há uma
insatisfação com essa decisão nacional e com a falta de apoio na
campanha de 2012, quando o senhor foi candidato a prefeito?
Não
tem insatisfação. Tem um entendimento. Não tive apoio de parcelas do PT
de Natal em 2012. O PT nacional também teve outras prioridades. Eu
compreendo. Faço política e sei quais são as regras do jogo. Integro um
partido e acato as decisões. Gostaria, claro, que em alguns momentos
tivesse sido diferente. Mas não é que seja uma insatisfação. A questão
não é esta.
Há possibilidade de discutir uma candidatura do senhor ao Senado?
Não,
possibilidade zero. O cargo majoritário para o qual eu tinha me
colocado é ao Governo. Se meu nome não teve chance de viabilidade por
uma tática nacional, não vou me colocar ao Senado. Zero de
possibilidade.
E na discussão do nome do PMDB, o PT como se coloca nesse debate?
A decisão é acatar o nome definido pelo PMDB. Trata-se de uma decisão do PMDB. A direção nacional informou que o
PMDB terá candidato ao governo, mas não apresentou o nome ainda. Certamente apresentará no momento oportuno.
Alguns
nomes foram ou estão sendo cogitados, como o do ex-ministro Fernando
Bezerra. Já foram citados, em outros momentos, o do deputado Henrique
Eduardo Alves, o do ministro Garibaldi Filho. Há alguma preferência do
PT?
Eu respondo por mim. O nome é indiferente. Não posso
responder pelo PT, porque não houve esse debate no partido. Para mim,
não há como falar em preferência. A decisão é do PMDB. O candidato é do
partido. Se o candidato é do PMDB, cabe ao PMDB escolher. Não se
fulaniza a política. Trato de concepção. Qualquer que seja o nome e o
partido, o candidato que queira reconquistar a sociedade, tem que
apresentar algo novo. Se for o mesmo discurso, será levado ao fracasso. A
sociedade precisa de outro projeto e outras propostas. Quem conhece o
mínimo da história do Estado, sabe que nunca passamos por uma situação
de tamanha crise, que se espalhou por todos os setores como agora.
Então não é tanto um problema de nomes neste momento...
O
Rio Grande do Norte tem perdido oportunidades e não será com arroubos,
com salvador da pátria, com blá-blá-blá, que vamos enfrentar esse
problema. Se for por aí, será o caminho da derrota. É preciso fazer um
debate sério com a sociedade sobre os caminhos do Estado, da economia,
do desenvolvimento, da estrutura que está carcomida, caduca, que não
responde às demandas da população. É preciso, então, buscar uma maneira
de recuperar esse tempo. Perdemos muito. Haverá muitas dificuldades.
Quem prometer facilidade, estará mentindo, fará demagogia. O Rio Grande
do Norte precisará de um longo período para recuperar esses períodos de
crises administrativas das quais tem sido vítima.
O PT espera reciprocidade em 2016 com o apoio do PMDB para uma candidatura à Prefeitura?
Não.
Cada eleição é uma situação. Não vamos tratar dessa maneira. Seria
equivocado abordar 2014 do ponto de vista de 2016. A situação do Estado é
de desmonte da máquina pública e da administração. A sociedade rejeita
esse tipo de abordagem. Até agora o único nome de candidatura assumida
ao governo é de Robinson Faria [atual vice-governador] do PSD. Isso
mostra a crise. Então, há 90% da população rejeitando o Governo e apenas
um candidato apresentado. Os demais partidos não colocaram seus
projetos e nomes. Isso representa a crise profunda a respeito da qual
sempre tenho falado. Seria muito equivocado em uma conjuntura desta
falar em 2014 a luz de 2016 ou 2018. Infelizmente sabemos que essa é a
marca da política local.
Mas,
diante do desempenho que o senhor teve em 2012 na candidatura a
prefeito, não vislumbra concorrer novamente em 2016 ao mesmo cargo?
Não,
não vislumbro, porque uma das coisas que aprendi, e espero que o PT
como um todo tenha aprendido, é que eleição não se repete. Temos vários
exemplos disto. Cada eleição é uma história. A eleição de 2012 foi um
momento. Passou. Não vai se repetir. Teve uma condição específica. O
partido vai fazer o debate no momento certo. Mas essas questões não se
dão em linha reta: o desempenho tal em 2012 não vai ter implicações,
necessariamente, em 2016. Temos tristes experiências que demonstraram
essa realidade. Espero que tenhamos aprendido. Eu aprendi.
A
perspectiva da eleição nacional é de uma campanha acirrada,
principalmente com a presença de um ex-aliado, o governador de
Pernambuco — Eduardo Campos —, na disputa?
Vai ser duríssima,
muito densa ideologicamente. E o PT não poderá ficar apenas comparando
com o passado. Precisará apontar o que quer para o futuro. E o partido
está trabalhando para isso. Essa é a disputa na sociedade. Mas é uma boa
disputa. A sociedade melhora com isso, com o explicitamento das
posições, com os diversos setores assumindo os posicionamentos
políticos. Às vezes temos uma situação muito misturada na política
nacional. Então, será uma campanha muito dura e espero a possibilidade
de ter uma clarificação de campos e definições de caminhos.
Aldemar Freire e Maria da Guia Dantas
Fundador
e uma das principais lideranças do PT no Estado, o deputado Fernando
Mineiro não tem mais dúvidas sobre os rumos do partido para as eleições
de 2014 no Rio Grande do Norte: o caminho é seguir a orientação da
direção nacional da legenda e isso significa formar uma aliança com o
PMDB para apoiar o candidato a governador dos peemedebistas. Nessa
coligação, caberá ao PT, segundo Fernando Mineiro, a vaga do candidato
ao Senado. “Está acertado que o PMDB, aqui, lançará candidato ao Governo
e o PT, ao Senado”, afirma. O nome mais provável para essa candidatura a
senador, também por recomendação dos dirigentes nacionais petistas, é o
da deputada federal Fátima Bezerra. Mineiro afirma que em uma eleição
como a de 2014, na qual estará em disputa a reeleição da presidenta
Dilma Rousseff, a estratégia nacional prevalece e caberá ao PT no Rio
Grande do Norte cumprir as orientações que serão definidas nas
articulações em Brasília. O que não está definido é a qual mandato o
próprio Mineiro concorrerá. Ele prefere a reeleição, mas não descarta a
alternativa da Câmara dos Deputados. O deputado considera que hoje o PSB
da ex-governadora Wilma de Faria é um partido adversário do PT. Veja a
entrevista que o deputado estadual do PT concedeu sobre esses assuntos,
sobre as divergências internas da legenda e sobre a política nacional.
Vlademir AlexandeDeputado
afirma que o RN passa por uma das mais difíceis situações
administrativas da história do Estado e precisará de uma longo período
de recuperação