Chapada do Apodi: “Que venha água, mas sem mudar o estilo de vida dos assentamentos”, diz dom Mariano

domingo, 18 de agosto de 2013 Pôla Pinto

Para Dom Mariano Manzana, bispo da Diocese de Mossoró o Governo não pode jamais excluir as pessoas que moram e dependem da Chapada do Apodi, da discussão em torno do projeto de irrigação da Chapada. Manzana participou de uma reunião em Caicó, nesta sexta-feira (16) com as presenças do arcebispo de Natal, dom Jaime Vieira e o administrador diocesano de Caicó, padre Ivanoff Pereira, além dos representantes do Seapac, Procópio Lucena e Francisco Teixeira, para cobrar dos governos definições mais claras com relação aos projetos sociais da Chapada e da Barragem de Oiticicas.

Em entrevista ao Blog do Marcos Dantas, dom Mariano reconheceu que a Chapada do Apodi, considerada uma terra muito fértil e boa, precisa de água, mas que essa água chegue sem, necessariamente mudar o estilo de vida das pessoas que há anos moram nas comunidades, e que o Governo também respeitam os assentamentos existentes na chapada, independente de terem sido construídos pelo Incra ou não.

Qual a preocupação da Igreja com relação ao projeto de Irrigação da Chapada do Apodi?
Dom Mariano Manzana - Nós sentimos que qualquer projeto que traga água para a Chapada do Apodi, é um projeto que visa o bem, agora muitas vezes por trás desses projetos existe uma ótica. Nós sentimos que hoje na Chapada do Apodi tem uma cultura que fundamentalmente se baseia na cultura familiar, no cultivo do mel, caprinocultura, criação de bodes, e esse projeto que o Governo quer implantar é mais um projeto que visa o agronegócio, e a população já tem uma experiência bem clara visando à outra parte da Chapada, que está no Ceará, pertinho de Limoeiro. Os contatos entre estas duas realidades mostram claramente que no lado do Ceará o projeto não foi favorável ao povo, mas ao agronegócio, e por isso nossa dúvida com relação ao projeto do nosso lado, se será para chegar água, se serão mantidos os assentamentos existentes na Chapada e a idéia é que possa continuar o tipo da agricultura familiar que aos olhos do povo é mais favorável a eles. Também temos a questão das mais de mil famílias acampadas e que buscam terra, e por isso o Governo deverá pensar como assentar estas famílias.

Qual a diferença da luta pela Barragem de Oiticica da Chapada do Apodi?
Aqui é uma barragem que está nascendo, e lá nós temos uma realidade onde muitos assentamentos já foram criados nestes últimos anos. O Governo prevê o respeito dos assentamentos do Incra, mas de outros tipos de assentamentos feitos com dinheiro do Sindicato metalúrgico de São Paulo, e mesmo sendo do mesmo jeito do Incra, o Governo não quer respeitá-los. E muitos se perguntam: porque tirar pessoas que já estão ali para depois colocá-las no mesmo lugar, mas com uma filosofia totalmente diferente.

A Igreja teve que a falta de diálogo com o Governo possa adiar mais ainda esse projeto?
Eu diria que para o dialogo dar certo as pessoas tem que ser abertas, e até hoje nunca se soube bem claro como é os detalhes desse projeto do governo. Alguns dizem uma coisa, outros dizem outra e isso dificulta o dialogo. Apodi tem um sindicato a favor do povo, com um número de associados expressivo e uma longa historia de luta em favor dos agricultores. Me parece que o sentimento do sindicato, dos agricultores e assentados é que água é muito boa, que venham a água, mas venha sem mudar o estilo do assentamento que tem lá, com uma cultura de economia familiar, nós vemos de dois anos de seca e nenhum assentamento se esvaziou. Sinal que de um modo ou de outro, o povo sobrevive. Se chegasse a água se tornaria um celeiro para todo o Estado. Mudando de ideologia, muitos têm dúvida e a parte do Ceará mostra que estas dúvidas estão bem fundamentadas.


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