Lula em Paris: Crise está nos chamando para as grandes decisões políticas que desaprendemos a tomar
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta
quarta-feira (12) em Paris que a crise internacional abre uma
oportunidade para que os governantes assumam responsabilidades e tomem
decisões que há tempos deveriam ser tomadas. “Essa crise está nos
chamando para as grandes decisões políticas que desaprendemos a tomar
depois de um longo tempo de bem-estar social”, disse Lula.
O ex-presidente destacou que a nova geografia política do mundo deve
ser respeitada e refletida nos organismos multinacionais e questionou
até mesmo a aceitação do dólar como moeda padrão internacional. “É
preciso dar mais representatividade e democratizar mais a ONU para que
possamos efetivamente nos valer dela”. O ex-presidente Lula e o
ex-primeiro ministro francês Lionel Jospin fizeram as falas de
encerramento do “Fórum pelo progresso social. O crescimento como saída
para a crise”, organizado pelo Instituto Lula e pela Fundação
Jean-Jaurès, em Paris.
Em um discurso de improviso e bem-humorado, Lula levantou risos da
plateia em vários momentos e foi aplaudido dez vezes durante sua fala,
de cerca de uma hora e vinte minutos (áudio completo ao pé deste texto).
Lula lembrou que no Brasil durante muito tempo foi aceita a ideia de
que era preciso primeiro deixar o bolo crescer para depois dividi-lo.
“Só que, no meu país, o bolo cresceu várias vezes, algumas pessoas
comeram, e outras continaram com fome. Nós provamos que dividir o bolo
era fazê-lo crescer. Era preciso distribuir para crescer”. O
ex-presidente se disse orgulhoso por ver que seu governo conseguiu
provar que era possível aumentar salários e recuperar a renda sem
aumentar a inflação. “Não quero dar palpite para a França ou para a
Europa, quero mostrar o que fiz no Brasil”.
O discurso do ex-presidente vai ao encontro dos debates abertos pelo
presidente francês François Hollande e pela presidenta Dilma Rousseff e
que envolveram intelectuais e políticos de diversos países. Durante as
mesas de debate, o tema da necessidade de uma nova governança
internacional, que dê espaço para os países em desenvolvimento e para
mais atores internacionais foi uma constante, assim como a chamada para a
defesa do emprego e o estímulo ao crescimento como medidas de superação
da crise internacional.
Lula lembrou, por exemplo, que saiu muito otimista da reunião do G20
em Londres, em 2010. “Foi a melhor reunião que o G20 já tinha feito”.
Lula leu várias das decisões daquele encontro, que definiam exatamente a
necessidade de preservação do emprego e do crescimento como armas de
combate e crise e ainda previam a necessidade de regulamentação do
sistema financeiro e de reestruturação dos organismos decisórios
internacionais. “O problema do G20 não é falta de decisão. Mas, quando
os presidentes voltaram a seus países, nada foi feito”, lamentou,
lembrando que as eleições nacionais e locais acabaram engessando muitos
governantes. “A única coisa que não está globalizada é a política que
continua subordinada às decisões eleitorais de cada país”, completou.
Ao final de sua fala, Lula voltou a dizer que esta não é uma crise
causada pelos trabalhadores e que é injusto que eles paguem, com
desemprego e recessão, por ela. E elogiou Dilma e Hollande porque, no
lugar de escolher um encontro entre presidentes, aceitaram ampliar o
debate, nesta conferência organizada pelo Instituto Lula e pela Fundação
Jean-Jaurès. “Vamos ouvir todo mundo, não tem problema que tenha gente
mais radical, menos radical. Sabe por quê? Porque essa crise não é minha
nem sua, é da responsabilidade de gente que a gente nem conhece”,
lembrando que nunca viu cara de banqueiro no jornal “porque são eles [os
banqueiros] que pagam as propagandas que saem lá”.
(Assessoria de Comunicação / Instituto Lula)