Eliane Bandeira: um pé na luta outro na organização.

sexta-feira, 6 de março de 2015 Pôla Pinto

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Página 13 entrevistou Eliane Bandeira, professora, diretora de formação sindical e educacional do Sintel-RN e secretária do meio ambiente da CUT-RN. Veja a opinião de Eliane sobre o balanço dos governos do PT, a conjuntura e os desafios da CUT.


São 12 anos de governo do PT e mais 4 anos pela frente, qual o balanço da CUT sobre esse período?
Para entendermos a atual conjuntura, se faz necessário e imprescindível um rápido, porém atencioso olhar sobre os acontecimentos políticos, econômicos e sociais desencadeados nas ultimas décadas no Brasil.
Comecemos então pelo final da década de 1980. O ano era 1989, Primeira eleição presidencial depois da ditadura militar. Aquela foi a primeira eleição onde estavam em disputa dois projetos distintos de sociedade. Lula unificando parte da esquerda na Frente Popular, apresentando um programa democrático e popular. No outro polo Fernando Collor, representando o neoliberalismo.
A partir da década de 1990, o PT e outros partidos tidos como do campo democrático e popular, conquistaram eleições majoritárias, ampliaram suas bancadas, seja no legislativo municipal, estadual ou federal.
Em que pese o campo democrático e popular ter experimentado um extraordinário crescimento na ação institucional e conquistarmos importantes avanços em um conjunto de políticas publicas sociais, não avançamos na disputa de projetos políticos no interior da sociedade. A cada processo eleitoral, as eleições vêem perdendo a dimensão política. Em seu lugar, as estratégias de marketing vêm dando o tom nas disputas eleitorais.
A eleição de Lula em 2002, seus dois mandatos e o primeiro mandato de Dilma possuem uma importância política e histórica para os trabalhadores e setores populares, impossível de mensurar. Contudo, não podemos deixar de destacar alguns elementos que julgamos negativos nesse processo.
Para ganhar a eleição em 2002, o PT rebaixou o programa, as alianças foram demasiadamente ampliadas, a composição do governo nos três mandatos, desagradaram em alguma medida os movimentos sociais, e ainda tivemos a participação de lideranças históricas da esquerda, que ocupavam espaços importantes na gestão, envolvidas em denúncias de corrupção e escândalos políticos.
Apesar de todos esses elementos acima citados, nesse ultimo período tivemos muitos avanços, seja na política econômica, com redução da inflação, dos juros, aumento real do salário mínimo, aumento de posto de trabalho, seja nas áreas sociais, com programas e políticas publicas que mudaram a qualidade de vida do povo brasileiro.

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O início do segundo mandato de Dilma Rousseff tem sido muito criticado, inclusive por setores que a apoiaram sua reeleição. Como você avalia esse inicio de segundo mandato da Presidenta Dilma?

A eleição presidencial de 2014, embora deixando a desejar em termos de conteúdo político programático e de um debate claro em torno da disputa de hegemonia política no interior da sociedade, foi sem sombra de dúvidas a mais polarizada das últimas décadas.
A reeleição da Presidenta Dilma foi apertadíssima. Aécio Neves, representante das forças mais atrasadas e conservadoras do país, não se conforma com o resultado das urnas. Ele desenvolveu uma obsessão pela faixa presidencial, quer a todo custo tirá-la da presidenta.
A obsessão de Aécio se soma aos interesses das famílias detentoras do controle dos meios de comunicação, dos banqueiros, latifundiários, políticos conservadores, etc.  Esses setores derrotados eleitoralmente vêm a cada dia se fortalecendo e impondo sua agenda política na ordem do dia.
Por outro lado, a presidenta Dilma tem tomados algumas medidas consideradas impopulares, a começar pela composição do governo: Levy, Katia Abreu, Kassab, Cid Gomes. São nomes reprovados pelo conjunto dos movimentos sociais.
As medidas provisórias 664 e 665, anunciadas pelo governo, atingem os direitos dos trabalhadores, a CUT é contraria a essas medidas.
O governo tem falado na necessidade de um ajuste fiscal. Historicamente, sabemos que recai sobre os setores populares a conta de tais ajustes, não cederemos em um milímetro nossas conquistas e direitos.
Quer fazer superávit primário? Taxe as grandes fortunas, o capital internacional especulativo.

Diante do atual quadro político, quais os principais desafios do próximo período e como a CUT pretende enfrentá-los?
Estamos atravessando uma profunda crise política: o modelo de democracia representativa está falido, a classe política desacreditada, o sistema partidário fragmentado – possibilitando a existência de legendas de aluguel – e os processos eleitorais perdendo a legitimidade. Esse é o quadro do modelo de representatividade vigente em nosso país.
Nós socialistas compreendemos a pratica política em três dimensões: a luta política social, a disputa no campo cultural e a ação institucional. Devemos combinar essas três dimensões, acreditamos que devam caminhar juntas, se articulando.
Parte expressiva dos nossos aliados na ação política institucional abandonou as lutas políticas mais gerais, priorizando a ação institucional, de tal forma a reproduzir as mesmas pratica e valores das elites, aprofundando a crise política.
Os desafios colocados à CUT dizem respeito a suas demandas especificas de superar algumas debilidades organizativas, colocar na ordem do dia sua agenda, na qual se destacam o fim do fator previdenciário e a implantação da jornada de 40 horas sem redução de salários.
Para além dos desafios colocados à CUT, temos outros bem maiores e que dizem respeito à sociedade civil organizada como um todo.
O campo democrático e popular precisa, para ontem, superar a dispersão e fragmentação de suas lutas, criando condições para unificar suas agendas e demandas, e assim possibilitar um ambiente favorável ao fortalecimento de uma identidade de classe.
Considerando a exaustão do modelo de democracia representativa no Brasil, nossa tarefa deve ser priorizar a luta política social, fortalecer os instrumentos de democracia participativa existente e forjar a implementação de instrumentos de democracia direta.
Está em curso a organização de um ato político nacional, onde a CUT, outras centrais sindicais e diversos movimentos sociais apresentarão suas demandas e reinvindicações. Defendemos como eixo de nossa luta a seguinte agenda:
  1. A reforma política, através de uma Constituinte exclusiva e soberana;
  2. Democracia na comunicação, com a Lei da Mídia Democrática e a implantação das principais resoluções da Conferência Nacional de Comunicação de 2009;
  3. As reformas estruturais, com destaque para a reforma política, as reformas agrária e urbana, a desmilitarização das Polícias Militares.
Fomos às ruas para reeleger Dilma, não tenho duvidas, os novos e velhos militantes da esquerda brasileira. Os setores democráticos e populares ocuparam os quatro cantos desse imenso, diverso e belo pais, imprimidos suas alegrias, cores, sonhos e garantiram a vitoria eleitoral. Fomos porque queríamos manter e ampliar conquistas. Voltaremos às ruas para defender o governo e para que a presidenta Dilma faça um segundo mandato superior ao atual.
A receita para o enfrentamento dos desafios colocados ao conjunto da classe trabalhadora já conhecemos: organização de base, formação política ideológica e mobilização social. Vamos à luta companheiros, até a vitoria!

Em agosto ocorrerá o 11º CECUT/RN. Como andam os preparativos para o congresso?
A vida de sindicalista não é fácil, o movimento é muito dinâmico. Embora nossas atividades sejam planejadas, a realidade do movimento sempre nos coloca novas tarefas.
Além do congresso da CUT/RN, a ser realizado em agosto, teremos em junho a eleição do Sindicato das/os Trabalhadoras/es em Educação (SINTE/RN), o maior sindicato do estado e do qual também sou dirigente.
Não podemos parar nossas atividades políticas e nos dedicarmos apenas à organização do congresso. O momento exige o esforço redobrado. Assim, estamos andando e trocando de roupa ao mesmo tempo, aproveitando os processos de lutas e mobilizações de algumas categorias e potencializando as articulações políticas em vista a realização do CECUT/RN.
Recentemente o SINJRN, promoveu uma grande mobilização junto aos servidores da justiça, chegando a atingir mais de 90% da categoria nas assembleias. A CUT esteve presente, apoiando a luta dos companheiros pela garantia de direitos já adquiridos e fortalecendo a organização e unidade dos trabalhadores. Queremos, inclusive, aproveitar o momento para parabenizar toda a direção e a militância do sindicato.
Então é assim que estamos construindo o 11º CECUT/RN, um pé na luta outro na organização.
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