ONU: 2014 pode ser ano mais quente da história

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014 Pôla Pinto








O ano de 2014 pode terminar com a temperatura mais alta já registrada, uma clara evidência das mudanças climáticas que causaram chuvas torrenciais, inundações e secas no mundo nos últimos meses, anunciou ontem (3) a agência meteorológica da ONU.

"Se novembro e dezembro mantiverem a mesma tendência [que a primeira parte do ano], então 2014 será, provavelmente, o mais quente já registrado, à frente de 2010, 2005 e 1998", destacou a Organização Meteorológica Mundial (OMM) em um informe provisório, divulgado durante a Conferência de Mudanças Climáticas em Lima (COP20).

O recorde possível de temperatura média na superfície terrestre "se deve em grande medida às temperaturas recordes na superfície dos oceanos, que vão continuar sendo, provavelmente, superiores ao normal até o fim do ano", disse a OMM.

"Temperaturas elevadas na superfície dos oceanos, combinadas com outros fatores, contribuíram para chuvas e inundações excepcionais em vários países e para secas extremas em outros", acrescentou o informe.

Nos 10 primeiros meses do ano, a temperatura média da Terra e da superfície dos oceanos foi 0,57°C mais alta que a média de 14°C do período referencial 1961-1990.

A informação provisória para 2014 determinaria que os 14 anos deste século seriam os mais quentes dos 15 anos com temperaturas mais elevadas, o que confirma a "tendência alarmante" de aumento das temperaturas da Terra a longo prazo.

"O aquecimento global não para", disse Michel Jarraud, chefe da OMM.

"O que vimos em 2014 é coerente com o que esperamos de um clima que está mudando. Recordes de temperatura combinados com chuvas torrenciais destruíram muitos hábitats e arruinaram vidas", declarou o funcionário em um comunicado.

Segundo a OMM, as altas temperaturas de janeiro a outubro foram registradas em um ano sem o fenômeno El Niño, um aquecimento cíclico das águas do Pacífico tropical que perturba o ciclo habitual das precipitações.

Na América Latina 

Na América Latina foi registrada uma ampla série de desastres ligados ao clima este ano.

Na Argentina ocorreram inundações e recordes de chuvas. Os mesmos fenômenos se estenderam ao território paraguaio, ao sul da Bolívia e ao sudeste do Brasil.

No Paraguai, as chuvas torrenciais causaram o transbordamento do rio Paraná, com inundações que afetaram mais de 200.000 pessoas, lembrou a agência meteorológica da ONU.

"Vimos os efeitos das mudanças climáticas que nossa região sofreu", disse à AFP Christiana Figueres, secretária executiva das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas.

"As tempestades e as secas vão continuar, o derretimento das geleiras nos Andes vai continuar. Há urgência para nos preparar e mitigar estes eventos. Não podemos simplesmente nos adaptar porque estamos nos expondo aos piores efeitos das mudanças climáticas", acrescentou.

O informe provisório da OMM serve de guia aos 195 países reunidos em Lima durante duas semanas para tentar avançar na elaboração de um pacto mundial que busque deter as graves alterações do clima. Este acordo deve ser adotado em 2015, em Paris, e entrar em vigor em 2020.

Descarbonizar o crescimento

Os compromissos centrais dos países para enfrentar as mudanças climáticas se concentram hoje em reduzir o uso de energias sujas - queima de carvão, petróleo, gás natural - e o desmatamento, que geram emissões de carbono e causam gases de efeito estufa que elevam a temperatura terrestre.

"Devemos descarbonizar urgentemente o crescimento econômico do mundo, mas isto só se consegue dentro de um processo gradativo. Estas características estão sendo debatidas dentro do acordo de Lima e, eventualmente, para Paris", disse Figueres durante coletiva de imprensa, em Lima.

Segundo o mais recente informe do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), publicado no começo de novembro, as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera são, atualmente, as mais elevadas em 800 mil anos.

Este aumento nas concentrações é alimentado pelas emissões de gases de efeito estufa (CO2, metano, óxido nitroso), que não param de crescer (+2,2% em 2012), devido a atividades humanas como a geração de energia, o desmatamento, a agricultura, processos industriais, etc.

"As emissões recordes de gases de efeito estufa e as concentrações atmosféricas que vão lado a lado levam o planeta a um futuro mais incerto e inóspito", comentou Jarraud.

O que está em jogo nas negociações internacionais sobre o clima, que prosseguirão até 12 de dezembro, em Lima, é chegar a um acordo global no fim de 2015, que comprometa todos os países em uma redução das emissões de carbono.


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