Agricultura orgânica em Campo Grande

domingo, 16 de novembro de 2014 Pôla Pinto



Um cenário contrastante marca a paisagem do Sítio Ramada, na zona rural de Campo Grande, município da região Médio-Oeste potiguar. No entorno, uma vegetação seca retrata os prejuízos da falta de chuvas no local. Já na residência de uma família de agricultores orgânicos, o cultivo de verduras e legumes mostra que ainda é possível vida em meio a tanta aridez.

A alface é uma das verduras cultivadas pela família de Campo Grande  - Foto Wilson Moreno
A alface é uma das verduras cultivadas pela família de Campo Grande
Não é de hoje que a família Faria trabalha com esse tipo de plantio. Mas, a proposta ganhou força após Sinária Faria, 27, agricultora, participar de um intercâmbio na Região do Seridó. Na oportunidade, ela observou um projeto de agricultura orgânica para consumo próprio e que possibilitava ampliar a renda. Sinária não pensou duas vezes e decidiu implantar a mesma ideia, a fim de beneficiar a família em Campo Grande.

“Na região do Seridó, havia um senhor que cultivava agricultura orgânica para consumo próprio e para vender. Lembrei-me de que minha mãe plantava coentro para vender. Então, mostrei o projeto para os meus pais e decidimos investir nele”, disse.

Sinária não se arrepende de ter participado do intercâmbio. Para ela, foi uma oportunidade de adquirir experiência útil para a vida no campo. A transmissão de conhecimento foi essencial para fortalecer essa agricultora, que já está colhendo os frutos do plantio. “Sempre quis investir na agricultura, mas não sabia como. Na visita ao Seridó, aprendi como fazer hortas no chão e o horário certo para plantar. A gente viu que investir na agricultura dava lucro”, declarou.

Pimentão, cebolinha, couve, coentro e alface são cultivados na propriedade. As verduras fresquinhas resultam da dedicação da família, que não se acomodou diante da estiagem que acometeu o Rio Grande do Norte. A família sabe que a terra poderia produzir muitos mais se não fosse a escassez de água e, apesar do progresso em meio estiagem, não deixou de ser afetada pela seca.

Hoje, a família conta com o auxílio de quatro cisternas – duas na residência dos pais de Sinária e mais duas na casa da própria agricultora. Com auxílio dos reservatórios, a família busca dar prosseguimento ao plantio e atender às próprias necessidades. Para eles, a existência de um poço no sítio seria fundamental e amenizaria os prejuízos ocasionados pela estiagem.

“Por causa da seca, morreram animais. Se tivéssemos um poço não teríamos de abrir mão do gado. Mas, a cisterna tem vindo em boa hora. É uma benção para os animais e para nossas atividades”, disse Maria Madalena, 66, agricultora e mãe de Sinária.

Jacinto de Farias, 41, é filho de Madalena e atualmente mora em Guarulhos, na Grande São Paulo. Apesar da distância, sempre visita a família e tem visto os bons resultados da agricultura orgânica. “O maior desejo era um poço, porque beneficiaria muito minha família, uma vez que o armazenamento de água nas cisternas ainda depende das chuvas. A agricultura orgânica, além de reforçar a renda, beneficiou a alimentação da minha família. A terra é fértil. Dá plantar milho, feijão. Mas, as melhorias ainda são um sonho”, declarou.

Enquanto a chuva não vem, a família reserva, nas cisternas, água de um açude que ainda persiste diante da falta de chuvas. Com essa água e liderada por Francisco Faria, 67, agricultor, a família vai seguindo a vida e investe na agricultura orgânica. “Sou agricultor desde que nasci. Agora, estamos investindo na criação de animais e na agricultura orgânica, o que reforça nossa renda”, disse.

Nove hortas estão sendo cultivadas e a família contou com as orientações de um agrônomo, que ensinou como administrar o plantio com menos água. O lucro ainda é modesto, mas tem ajudado a família. As verduras são vendidas na zona urbana de Campo Grande. “Os resultados das vendas vão para meu pai. Ele tira as despesas e divide o lucro entre nós”, frisou Sinária.

As cisternas foram adquiridas por meio de um projeto do Governo Federal e da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) denominado de “Programa Uma Terra e Duas Águas” (P1+2). Em Campo Grande, a Organização Não Governamental Sertão Verde possui vínculo com a ASA e dá assistência técnica às famílias que foram beneficiadas.

“No período de cinco anos, se a cisterna quebrar, concedemos todo suporte para reparar o reservatório. Além disso, também é importante salientar que cada família passa por capacitação para a utilização de água, aprende sobre gestão para produção de alimentos e sobre sistema de manejo de água, e participa de intercâmbios em outros municípios”, destacou Jean Batista, técnico da organização Sertão Verde.

Fonte: Jornal Gazeta do Oeste


Deixe seu comentário

Tecnologia do Blogger.
Design desenvolvido por Railton Rocha | 84 9667-0229.