Dossiê Perímetros Irrigados será lançado hoje em Apodi

quarta-feira, 11 de junho de 2014 Pôla Pinto



Mais de dois anos de coleta e organização de pesquisas científicas, textos e estudos de caso em cinco perímetros irrigados nos Estados do Ceará e Rio Grande do Norte geraram o “Dossiê Perímetros Irrigados” e a expansão do agronegócio no campo: quatro décadas de violação de direitos no semiárido que será lançado hoje, dia 11, às 8h, no Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR), em Apodi.
O projeto de irrigação da Chapada do Apodi está sendo capitaneado pelo DNOCS – Foto Cedida
A partir do diálogo com a população das regiões afetadas, foi definido que a pesquisa se focaria na violação de alguns de seus direitos básicos: à terra, à participação política, à água, ao meio ambiente, ao trabalho digno e à saúde. Em relação a esta última, o dossiê traz uma denúncia grave: devido ao uso abusivo de agrotóxicos, a taxa de mortalidade por câncer entre as comunidades que vivem no entorno das plantações do agronegócio é 38% maior do que nos locais onde há apenas agricultura familiar.

O dossiê consiste em, aproximadamente, 600 páginas, que revelam os impactos negativos sofridos pelas comunidades desapropriadas e pelas que ainda convivem no entorno desses grandes projetos de irrigação nas regiões do: Jaguaribe-Apodi (CE), Tabuleiro de Russas (CE), Baixo Acaraú (CE), Baixo Assu (RN) e Santa Cruz do Apodi (RN).

O lançamento oficial do dossiê ocorre, estrategicamente, na cidade de Apodi, por ser um local onde os agricultores e agricultoras fazem grande resistência, que vai desde a negação da saída do território a cartas coletivas, caravanas, atos públicos regionais, nacionais e internacionais. “Esta é mais uma ação de denúncia e resistência contra esse projeto de desenvolvimento do agronegócio, que só traz malefícios com sua produção que esgota os nossos recursos naturais, expulsa o povo de seus territórios e prejudica a saúde dos trabalhadores que vão lidar diretamente com o agrotóxico e da população que vai consumir comida envenenada”, alerta Ivone Brilhante, agricultora do P.A Sítio do Góis (Apodi).

O lançamento, bem como o documento, tem como objetivo esclarecer a população dos riscos do Perímetro Irrigado. O agricultor e presidente do STTR, Edilson Neto, afirma: “É muito interessante que a gente junte esses conflitos. O problema é de todo mundo, não só de Apodi. Nós estamos perdendo os territórios. Se a gente não lutar, não vamos ter mais nenhum camponês”.

O conteúdo do dossiê foi apresentado no III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), realizado em Juazeiro da Bahia, no mês de maio, onde reuniu agricultores e diversos segmentos da sociedade de várias cidades do país. O documento está disponível no endereço:
http://dossieperimetrosirrigados.net/

CONSTRUÇÃO
A proposta de construção do dossiê nasceu no âmbito do “Movimento 21″ – M21, uma articulação de movimentos sociais do campo, sindicatos de trabalhadores, pastorais sociais e pesquisadores, que se constitui a partir da reação ao assassinato da liderança camponesa Zé Maria do Tomé, ocorrido em 21 de abril de 2010, no contexto da luta pela terra e contra os agrotóxicos dos ex-irrigantes e desapropriados para a instalação do Perímetro Irrigado Jaguaribe-Apodi – PIJA, nos municípios de Quixeré e Limoeiro do Norte, na região do baixo vale do rio Jaguaribe, no Ceará.

O dossiê foi organizado a partir do grupo de pesquisa do M21 e foram convidados a se somar pesquisadores e pesquisadoras sobre o tema, inseridos nas seguintes instituições de ensino e pesquisa: Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Estadual do Ceará (UECE), Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN).

O PROJETO
O projeto de irrigação da Chapada do Apodi está sendo capitaneado pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS). A desapropriação das terras na área que compreende a Chapada do Apodi começou desde 2011 e com ela, centenas de famílias de 30 comunidades rurais tiveram que deixar suas terras para dar lugar a um projeto que, na visão dos trabalhadores, vai destruir as comunidades camponesas e todo o trabalho de agricultura familiar desenvolvido na região.

Atualmente, a região da Chapada do Apodi/RN vem se consolidando como uma das experiências mais exitosas de produção de alimentos de forma agroecológica e familiar do Nordeste, destacando o arroz, frutas, criação de caprinos, ovinos e bovinos, projetos de piscicultura, além do mel de abelha. Ela é a maior produtora de matéria orgânica do país.
Fonte: Jornal Gazeta do Oeste.


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