Presidente Lula e o então prefeito de Belo Horizonte, Fernando
Pimentel, em visita a Vila Cafezal (Belo Horizonte, MG, 21/06/2007)
Foto: Ricardo Stuckert/PR
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
concedeu entrevista ao jornal mineiro O Tempo. Lula viaja nesta
sexta-feira (14) para Belo Horizonte, onde participa, ao lado de
Fernando Pimentel, do lançamento da “Caravana da Participação: a gente
quer o que é melhor pra você”.
Na entrevista, Lula falou sobre o ganho real dos trabalhadores nos
últimos 12 anos, Copa do Mundo, recursos do Pré-Sal e o combate a
pobreza. “conseguimos tirar 36 milhões de pessoas da miséria e levar 40
milhões para a classe média. Foi a maior ascensão social coletiva que o Brasil já conheceu”, disse.
Lula falou ainda sobre a realidade em Minas Gerais e a possibilidade
de um governo do PT no estado, na eleição deste ano. “quase todas as
obras importantes e as ações sociais que acontecem em Minas são com dinheiro do governo
federal. Já era assim no meu governo e aumentou com o governo de uma
mineira. Às vezes o Estado troca o nome dos programas, mas a maior parte
do dinheiro continua sendo federal. Temos um ótimo pré-candidato, o
ministro Fernando Pimentel, que está inclusive liderando as pesquisas”.
Leia abaixo a íntegra da entrevista:
‘Vamos trabalhar para que Pimentel tenha apoio do PMDB’
ISABELLA LACERDA
O petista, que está hoje em Belo Horizonte para o lançamento da
pré-candidatura de Fernando Pimentel ao governo de Minas, afirma em
exclusiva a O TEMPO que para ganhar a eleição é preciso mostrar as
fragilidades do PSDB e não descarta ser candidato de novo.
O salário mínimo
vem tendo ganho real nos últimos anos. O senhor, que foi um líder
sindical atuante, acha que trabalhador tem condições de sobreviver
atualmente com R$ 724?
Nós sabemos que o mínimo não é o sonho do trabalhador. Em 2002, o
salário mínimo era de apenas R$ 200, e não chegava a US$ 100. De 2003
até hoje, já teve mais de 70% de aumento
real. Chegou a R$ 724, que são cerca de US$ 300, e vai continuar
crescendo nos próximos anos. O governo anterior dizia que era impossível
aumentá-lo sem quebrar a Previdência Social. Demonstramos que isso era
falso. Negociamos com as centrais sindicais uma política de valorização
permanente do salário mínimo, que passou a ter aumento acima da
inflação. Além de melhorar a vida
dos trabalhadores, o aumento do salário mínimo amplia o consumo popular
e fortalece o mercado interno, que é o esteio da nossa economia. E a
Previdência não quebrou.
O senhor é a favor das manifestações de rua em curso no país
desde junho de 2013? Como o governo deve tratá-las, considerando ser a
Copa do Mundo o alvo de muito desses protestos?
O Brasil é uma democracia, e as manifestações pacíficas fazem parte
da vida democrática. Na última década, a sociedade se mobilizou e obteve
conquistas extraordinárias. A população descobriu que vale a pena
manifestar-se, que isso ajuda o país a avançar. Quanto mais
participativa a democracia, melhor. E os governos devem dialogar com os
movimentos, atendendo o que for justo e possível. A violência, no
entanto, é inaceitável. Quem recorre à violência, perde a razão e obriga
o Estado democrático a agir para impedi-la. Uma Copa do Mundo traz
muitos benefícios para o país que a realiza. É por isso que existe uma
disputa tão grande para sediá-la. Além das vantagens esportivas, como a
construção e reforma de estádios, a Copa aumenta o turismo, gera
empregos, amplia a infraestrutura e melhora a mobilidade urbana. É
natural que ocorram protestos, pois alguns grupos aproveitam a
visibilidade do evento para divulgar as suas causas. Mas a imensa
maioria do povo brasileiro está feliz com a realização do Mundial no
Brasil e percebe os benefícios para o país e espera que seja um sucesso.
Por que a transposição do rio São Francisco ainda não foi
concluída e a obra hoje encontra-se em muitos pontos abandonada? Foi um
erro?
A transposição, que na verdade é uma integração de bacias, é uma obra
fundamental para o Nordeste brasileiro. Um sonho da maioria dos Estados
nordestinos desde os tempos de D. Pedro II. Ela vai promover uma
revolução produtiva e social no semi-árido. Por isso, não hesitei em
apoiá-la, mesmo sabendo que enfrentaria muitas incompreensões, sobretudo
daqueles que não conhecem o sofrimento do sertanejo com a falta de
água. E ela não está parada não. Há trechos praticamente concluídos e
muitos que estão avançando. Alguns estão suspensos por decisões
judiciais. Mas, com paciência e perseverança, todos os obstáculos serão
vencidos.
Qual é o futuro político do senhor? Disputaria uma nova eleição ou poderia fazer parte de um novo governo da presidente Dilma?
Não deixei de ser um militante político porque saí da Presidência. A
política é essencial na minha vida. Eu vou ser um ativista político até
morrer, pois acredito que essa é a melhor maneira de mudar a sociedade,
de combater as injustiças, a pobreza e a desigualdade. Eu já disse que
não tenho vontade de disputar eleição novamente. Mas essas coisas não
dependem só da vontade pessoal. De qualquer forma, é uma questão para o
futuro, em 2014 a nossa candidata é a presidente Dilma. E acho que ela
tem grandes chances de ganhar. Não pretendo ter nenhum cargo no segundo
mandato de Dilma, quero continuar ajudando ela do meu jeito. Além do
mais, no Instituto Lula estamos fazendo um trabalho de cooperação com a
América Latina e a África que me entusiasma muito e que pretendo
continuar.
Qual a maior virtude e o maior defeito da presidente Dilma Rousseff no comando do país?
A maior virtude é trabalhar duro e com muita competência. Tudo que
ela pega, ela se empenha e resolve. Ela nunca larga uma tarefa pela
metade. Acaba sendo um pouco mãe das coisas. E a população percebe isso,
sente que o Brasil está nas mãos de quem sabe cuidar do país. O defeito
dela é não ser corintiana.
Qual vai ser a estratégia do PT em Minas para vencer a
hegemonia do senador e candidato tucano à Presidência, Aécio Neves?
Haverá aliança com o PMDB?
O PT de Minas e os partidos aliados é que vão definir a nossa
estratégia. Mas eu acho que devemos mostrar as limitações e fragilidades
do governo tucano e o
que pode melhorar com o PT. Na verdade, quase todas as obras
importantes e as ações sociais que acontecem em Minas são com dinheiro
do governo federal. Já
era assim no meu governo e aumentou com o governo de uma mineira. Às
vezes o Estado troca o nome dos programas, mas a maior parte do dinheiro
continua sendo federal. Temos um ótimo pré-candidato, o ministro
Fernando Pimentel, que está inclusive liderando as pesquisas, e vamos
trabalhar para que ele seja apoiado pelo PMDB e por todos os partidos da
base do governo federal. Tenho certeza de que o PT, como sempre, fará
sua campanha dialogando em todo o Estado com os movimentos sociais, a
juventude, a intelectualidade, o empresariado e os setores que desejam
um novo rumo político e social para Minas.
O combate à pobreza e mais investimento na educação vão ter que esperar mais uma década?
O combate à pobreza e a melhoria da educação foram as maiores
prioridades do meu governo e continuam sendo no da Presidenta Dilma. E
isso muito antes do pré-sal. Basta dizer que, sem um tostão do pré-sal,
só com recursos do Orçamento, conseguimos tirar 36 milhões de pessoas da
miséria e levar 40 milhões para a classe média. Foi a maior ascensão
social coletiva que o Brasil já conheceu, fruto de um conjunto de
programas, principalmente do Bolsa Família, que foi premiado pela ONU
como o melhor programa de combate à pobreza do mundo. A Dilma aprofundou
esse trabalho, com o Brasil Sem Miséria. Sobre a educação, os números
falam por si.
Nesses 11 anos, elevamos o orçamento do Ministério da Educação de 33
bilhões em 2003 para R$ 101,86 bilhões em 2013. Com isso, foi possível
ampliar todas as universidades federais existentes, criar 17 novas
universidades e espalhar 126 novos campi pelo interior do país. Em Minas
Gerais, foram trës novas universidades: a Federal do Triângulo Mineiro
(UFTM), a Federal de Alfenas (Unifal) e a Federal dos Vales do
Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), além de três novos campi das
universidades de Juiz de Fora e de Uberlândia. Criamos em uma década
mais escolas técnicas federais do que haviam sido criadas em todo o
século anterior. Sem falar no Pro-Uni, que já possibilitou o acesso de
1,4 milhões de jovens da periferia ao ensino superior. E poderíamos
acrescentar o FUNDEB, o FIES, a Universidade Aberta, o Piso Nacional do
Magistério etc. Tenho muito orgulho de ter sido, junto com o saudoso
José Alencar, o governante que mais fez pela educação brasileira, da
pré-escola à pós-graduação. Também nessa área, a Dilma está avançando
muito, com o Pronatec e o Ciência Sem Fronteiras, por exemplo.
O senhor concorda com a tese de que o julgamento do mensalão foi político e que, portanto, os envolvidos são “presos políticos”?
Só vou me pronunciar sobre a Ação Penal 470 quando o julgamento
estiver concluído. Mas é óbvio que a Suprema Corte não é lugar para
fazer política. Quem quer fazer política deve filiar-se a um partido e
assumir as suas posições em praça pública.
Link da entrevista no site do O Tempo: http://www.otempo.com.br/capa/pol%C3%ADtica/vamos-trabalhar-para-que-pimentel-tenha-apoio-do-pmdb-1.788862