segunda-feira, 18 de julho de 2011 Pôla Pinto

O PSIQUIATRA CANGACEIRO E SEU AMIGO ZÉ DOIDO

A amizade do médico psiquiatra Epitácio de Andrade Filho, 45 anos, com o guia turístico José Ernesto Ferreira, “Zé Doido”, 59 anos, começou na infância/adolescência, quando acompanhava uma visita do seu pai, Doutor Epitácio Andrade, ao pai de Zé Doido, Seu Ernesto Ferreira, na casa do Ex-prefeito João Pereira de Araújo, localizada no Sítio Cajueiro, na zona Rural do município de Patu/RN, terra natal do cangaceiro Jesuíno Brilhante.

Sítio Cajueiro – 1981. Creditada a Emanoel Cândido do Amaral

Não parecia óbvio que de uma visita de adultos, fosse surgir uma relação de amizade entre adolescentes, capaz de formar uma aliança teórico-prática, que mais tarde, seria responsável por grande parte do resgate do patrimônio histórico-cultural potiguar, protagonizado pelo fenômeno do cangaço entre os brilhantes e os limões. Aos 16 anos, no dia primeiro de janeiro de 1983, quando chupava uma manga coité com o cantareiro José Pernambuco, trazida por Zé Pequeno, do Sítio de Seu Lino, na calçada da Igreja de Patu, Epitácio Filho recebeu de sua irmã Lilian Holanda a notícia que havia passado no concurso vestibular para medicina da Universidade Federal da Paraíba, o que motivou Zé Doido a sair em disparada ao encontro de Seu Cícero Barbeiro para raspar a cabeça.

Zé Doido e Epitácio Filho com as cabeças raspadas. Crédito de Lilian Holanda

A teoria da amizade do pesquisador do cangaço com o “GPS humano” começou em 19 de abril de 1969, quando Epitácio Andrade Filho foi presenteado com a oportunidade de tirar uma fotografia, sentado no Jipe de seu pai, por ter conseguido soletrar a frase “O bolo é da vovó”, que leu “O boló é da vovó”, quando era iniciado na leitura pela mestra Raimunda Cleonice Dantas, auxiliada pela Professora Maria Celi Suassuna, “a matriarca da cultura patuense”.

Epitácio Filho aos 3 anos. Crédito de Luiz do foto

Os aspectos práticos da amizade de Zé com Epita sempre se basearam no respeito e na ajuda mútua. Quando a benzedeira Francisca de Mica, que conhece e reza a oração de fechamento de corpo dos tempos de Jesuíno Brilhante (1844-79), apresentava uma inchação na mão direita, o estudante de medicina Epitácio Filho pediu a seu tio, o médico Cândido Nóbrega de Holanda, para atender Dona Chica. Ao drenar um volumoso abscesso, o ás cirurgião constatou se tratar da penetração de uma ponta de agulha, oriunda do ofício da lavagem de roupas praticada pela xamã.

Zezinho de Luiz Tavares, Epitacinho, Lilian, Dr. Cândido e Cândido Filho. 1973

Na época era semana santa, quando existe a tradição do furto de galinhas do quintal de amigos. Epitacinho, juntamente com seu futuro cunhado Zezinho, filho de Luiz Saraiva (Luiz Tavares), carregaram uma “penosa” do quintal do velho “artífice do ferro”. Zé Doido morava nos fundos do centro de saúde, onde Dr. Cândido drenou o abscesso de Dona Chica. Entre os móveis da residência de Zé Doido, existia uma velha estufa, onde a ave, objeto do furto, foi assada e depois saboreada, pelos cangaceiros na noite do sábado de aleluia.

Epitácio Filho com personalidades folclóricas. Foto creditada a Lilian Holanda

A relação do médico com o guia não é uma relação médico - paciente. É relação de amizade sedimentada no folclore, como é a relação de ambos com o Capitão João de Artur, comandante do “Boi de Cortejo” de Patu; como foi a amizade dos dois, com o mestre de obra Raimundo Crisóstomo e com Pedro do Rádio, presentes nas comemorações pela aprovação no vestibular da dupla Epitacinho-Zé Doido. O trabalho de preservação do patrimônio histórico e cultural patuense, desenvolvido pelos solidários amigos, envolve sítios arqueológicos, comunidades quilombolas, esportes radicais, arte da cantaria, artesanato, redes sociais, saúde mental, além da história do legado do cangaço de Jesuíno Brilhante e da Família Limão.

Zé Doido, Lilian e Quilombolas/sítio arqueológico do Jatobá

Q pesquisador social e o turista veterano têm uma relação histórico-científica, baseada na ética da investigação teórica e da pesquisa de campo. Tem sido assim no desenvolvimento do mapeamento transdisciplinar do complexo ecossistemático do município de Patu, coordenado pelos dois amigos, donde recentemente, o espeleólogo Rostand Medeiros, em equipe, executou os trabalhos que se possibilitou a descoberta da Furna dos Porcos ou “Fucim do poico”, como chama alguns caçadores, referindo-se a mais um possível esconderijo do cangaceiro Jesuíno Brilhante.

Zé Doido e Epitácio Filho. Crédito: Júlio Cesar Ischiara

Com a intenção de preservar os sítios históricos remanescentes do legado do cangaço de Jesuíno, que envolve um conjunto de sete serras no município de Patu e os lugares de memória da família Limão, após o lançamento do Livro “A Saga dos Limões – Negritude no Enfrentamento ao Cangaço de Jesuíno Brilhante”, ocorrido em Patu, no dia 10 de julho, a dupla de pesquisadores resolveu dá um caráter permanente ao “mapeamento” e estão buscando parcerias, para formular um projeto de lei municipal, que regulamente o manejo do patrimônio histórico-cultural patuense.

Fonte Epitácio Filho.


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